5 de janeiro de 2009

Carta ao Pai Natal

«Acho mesmo que cada um de nós deve atirar o sapato (simbolicamente, claro»!) aos acontecimentos e políticas que lhe provocam indignação.Por isso, aqui vai o meu sapato para o triste episódio do encerramento do serviço de urgência do hospital de Vila do Conde.»

Querido Pai Natal, escrevo-te esta missiva com a firme certeza de que não vais ler esta carta - de resto é o que acontece com as «pessoas de ficção»: como não existem, não sabem ler! Bem feito!Mas curiosamente - ou talvez não! - apesar de não existires e, por isso, não leres cartas, continuam a escrever-te. Já é assim há décadas, não é verdade!Por falar em cartas, por cá também há uma carta que ainda continua a ser muito falada. Já te falo disso...Acho mesmo que tu não passas de um valente embuste. Dos maiores que há neste mundo - e olha que isto não é nenhum elogio!Não sabes porquê? Eu digo-te. As pessoas escrevem-te cartas que tu não lês, a pedir coisas que tu não dás. Mas na noite de Natal lá vão aparecendo algumas prendas nos «sapatinhos» das crianças, conforme as possibilidades dos seus pais e familiares. E as crianças a pensar que és tu que dás as prendas!Porém, cada vez há mais pais e familiares que não podem dar prendas aos pequenotes lá de casa - porque a «crise» afecta acima de tudo as pessoas, não os bancos. O que acontece, na generalidade dos casos? As crianças não compreendem o que é isso da «crise» e ficam muito decepcionadas. Com quem? Contigo? Não! Com os pais e familiares!Ou seja, se a coisa corre bem, és tu que recebes os louros! Se as coisas correm mal, a culpa é dos outros!Por isso, acho que deves ter muito cuidado, porque se este equívoco se descobre é a tua «credibilidade que fica em questão». Com dizia na tal outra carta!Digo eu...

Prendas e promessas. Pai Natal, a tua imagem está muito associada às prendas, nesta época. Ora, como tu sabes, as prendas são dadas e recebidas num momento e está o assunto arrumado.Mas, quer-me parecer que as pessoas andam um pouco enganadas quanto aos teus «poderes» e, vai daí, te fazem pedidos que vão muito além de uma simples - ou complicada - prenda. Por exemplo, nesta terra, depois de mais de trinta anos de poder socialista, num concelho onde falta o saneamento básico e o abastecimento domiciliário de água, onde não há uma Etar, as pessoas já não acreditam nas promessas autárquicas. E, por isso, acham que essas infra-estruturas elementares para a qualidade de vida só poderão aparecer se forem uma prenda do Pai Natal, uma prenda no «sapatinho»!Mas tu não és a Indáqua. Pois não?Digo eu...

Sapatinho. Depois de um jornalista iraquiano ter usado o par que tinha calçado, para fazer um ataque cruel a dez anos de poder de George W Bush, a palavra «sapatinho» passou a ter outra conotação. Não serve só para calçar e para as crianças porem na chaminé na véspera de Natal. Tornou-se também no principal meio de demonstração de indignação contra pessoas e políticas. Acho que é a melhor maneira do mundo se despedir do presidente dos E.U.A.Acho mesmo que cada um de nós deve atirar o sapato (simbolicamente, claro»!) aos acontecimentos e políticas que lhe provocam indignação.Por isso, aqui vai o meu sapato para o triste episódio do encerramento do serviço de urgência do hospital de Vila do Conde.
Digo eu...

Rui Silva 26/12/08

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